Hoje foi o dia de renovar aquele documento que tanto amamos: A Carteira Nacional de Habilitação. A CNH agora tem que ser renovada num esquema que se não for exatamente é bem parecido com esse:
1 - Você paga uma nota pra fazer auto escola, e quando passa no exame de legislação recebe uma permissão. Não é uma CNH, é uma PCNH. Ou seja, você não é um motorista pleno. Se fizer bobagem, perde a carteira - ops permissão - rapidinho.
2 - Após um ano penando para não tomar multa ou passando a multa para a carteira do papai, laranjas ou recorrendo de quaisquer infrações para que os pontos caduquem no Detran, você recebe uma CNH. Viva! Você é um motorista com direitos plenos. Paga uma taxa no Detran, faz exame de vista, e vai embora, com uma linda carteira de motorista com foto digital.
3 - Então, após dois anos você tem que renovar novamente sua CNH. E paga uma nova taxa. São R$46,36 hoje, pelo serviço. Descreverei o passo a passo da complexa operação:
Eu saí de minha casa, pensando "em qual dos Detrans eu vou?" e me resolvi, por uma questão meramente de escolha pessoal (fiz minha primeira carteira lá) ir até a vila Hauer. Pensei que enfrentaria fila - curiosamente, numa instituição pública, o atendimento foi relativamente rápido. Eu fui abordado pelo senhor da portaria, que estava com uma cara de poucos amigos mas foi bastante educado, me entregando uma senha após solicitar minha antiga CNH. Fui até a fila. Uma senhora reclamava por ter sido reprovada no teste de balisa, estava furiosa, e uma solícita funcionária da repartição em questão ficou um tanto quanto... digamos, nervosa com a situação, e dizia "Mas na vida real". O exame é real. Bom, o ponto é que eu me distraí ouvindo a discussão e fui chamado. A moça solicitou a minha CNH, não olhou em meu rosto, e começou a digitar frenéticamente meus dados. "Endereço" "CPF" - eu tinha que confirmar. Mas, interessante, se eu tivesse inventado um endereço, ou utilizado uma conta de luz para fazer a declaração de residência eu teria simplesmente criado um registro fantasma no Detran. Ou, claro, se eu fosse algum tipo de golpista, ou irmão gêmeo da pessoa que teria que comparecer ao Detran, ou até mesmo só parecido, teria saido com uma carteira novinha de um estranho. Mas ok, a burocracia estava ágil, e em pouco tempo eu recebi um boleto, que prontamente fui quitar no banco ao lado contrário do corredor. São QUARENTA E SEIS REAIS E TRINTA E NOVE CENTAVOS. Ok, a moça que estava dando show antes havia saído, e a funcionária solícita do Detran voltava de uma viagem para tomar água, eu acho, esmagando raivosamente uma folha de papel sulfite. E comentando, não em voz alta, mas o suficiente para ser ouvida na repartição (que não preserva em nada o sigilo, os dados das pessoas, porque não tem sequer uma divisória separando as cabines de atendimento) o quanto a mulher havia importunado ela. Eu havia reduzido o passo para ouvir um pouco (sou curioso) mas tinha que pagar meu boleto. Presto. O atendente do banco foi simpático, recebi meu troco, sem um centavo referente aos trinta e nove, mas ok, um centavo é uma perda aceitável, na verdade é bastante sofrível, até pelo fato de que você normalmente não acha o que fazer com um centavo, visto que hoje para comprar um chiclete simples você precisa de dez, e um chiclete fuleiro lhe é vendido por cinco.
Voltei para a repartição, onde a moça que me atendia - uma morena bonitinha de olhos pequenos e amendoados, mas alheios à quem ela atende, uma pena - me chamou novamente, enquanto atendia um senhor.
Paremos e façamos uma oração para que da próxima vez ela faça uma coisa de cada vez. Nunca atenda duas pessoas ao mesmo tempo. Que a Senhora a abençoe. De coração. E que ela jamais atenda novamente duas pessoas ao mesmo tempo.
Bom, ela atendia um senhor, fazia o pacote com meus documentos para encaminhamento, e me indicava a cabine de fotografia. Ok. Ok. Fotografia, processo simples. Dedo no leitor ótico, processo simples. Foram o dedão e o indicador de ambas as mãos - e eu esperava ter que confirmar minha pessoa com um exame de dna. Mas ok, ok. Talvez esse processo dispense o processo de identificação anterior - mas talvez, não sei. E tal tecnologia deve ser cara, claro, cara demais. Continuando, assinei - e devo comentar que é muito estranho utilizar aquela "tábua sensorial" para escrever meu nome de forma tão artística como fazemos em assinaturas. Ficou uma m completa, mas ok - eu estava ansioso, sempre fico ansioso, estou ansioso agora.
Recebi meus documentos, meu vale para caso de parada crítica em blitzes no trânsito, e fui encaminhado para o exame médico. OK. Entrei, fui orientado a sentar, e colocar minha cabeça no "trocinho que mostra letrinha para você ler", ou seja, o examinador de vista faria a pergunta clássica - "o que você consegue ler?" bem... eu o fiz. Mas antes indaguei "Com ou sem o óculos?" "Você que sabe." Caramba. Eu que sei. O cara está me avaliando, eu digo, eu tenho problemas de visão, você quer testar para ver se eu estou dentro da faixa de aceitabilidade? "Você que sabe." Como sou um motorista consciente, coloquei meus óculos. São fracos, não é nada que me impediria de ler uma placa no transito ou de notar a distancia entre carros, mas odeio dirigir sem óculos. OK. OK. Comecei a ler. "HKPM..." "leia a linha 7a" "opkndg..." "Leia de novo" Po, eu não tinha nem lido inteira ainda - que aguarde! Eu comecei a ler, e fui interrompido no meio do processo novamente. Fiquei indignado, porque ele não interrompia para dizer se eu tinha acertado, errado ou o que, simplesmente "Pode pegar seus documentos e ir, sua carteira chega de cinco a sete dias". De forma simples, e grosseira, sem a mínima cortesia, ou pretensão de cortesia. Eu pensei "Desculpe, meu caro, mas se teu emprego é uma merda, se exonere e vá fazer esse seu traseiro gordo se ocupar com alguma coisa útil." Peguei meus documentos, agradeci à contragosto, e fui embora. Aparentemente a moça que discutia era ainda assunto, mas não parei para ouvir.
Eu levei algo em torno de dez minutos para completar o processo, excetuando o trajeto. Digamos que com o trajeto eu gastei mais quarenta minutos indo bem devagar e deliberadamente. Foram os quarenta e seis reais e trinta e nove centavos mais inúteis da minha vida. Eu pago GRLAV. Eu pago IR. Eu pago CPMF. Eu pago IPTU. Eu pago pedágio. Eu pago IPVA. Eu quero minha carteira de graça - ou pelo menos um bom serviço de atendimento, um serviço educado, onde o cliente não seja dono da razão, mas seja acolhido no sistema, não repassado de mão em mão tal qual um envelope sujo, ou uma nota de um real.
terça-feira, maio 10, 2005
Renovação de CNH
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário